O Mestre

Ele era mais um brasileiro em Tókio. O seu objetivo era treinar e se tornar um grande lutador. Tókio era o lugar certo para isto. Sua academia era imensa e como Tókio assim como São Paulo é uma cidade que nunca para. Era possível treinar a qualquer hora do dia. Até às 4 horas da manhã havia várias pessoas treinando. Os treinos eram duros. Todos, desde os iniciantes até os mais avançados treinavam com afinco. Grandes campeões treinavam na academia inclusive alguns campeões mundiais.

Enquanto pensava em seu treinamento uma coisa lhe chamou a atenção: todos olhavam para quem acabava de chegar na porta. Entrou um homem pequeno e bastante maduro. Tinha os cabelos brancos e um porte muito distinto. Diferente dos faixas pretas ele ostentava uma faixa com uma combinação de cores que nunca vira antes. Uma faixa como aquela era um sinal de muita importância, de um grau muito elevado, talvez daqueles que são concedidos apenas pelo Imperador do Japão. Todos os alunos pararam suas atividades e olharam para aquele senhor. Todos começaram a chamá-lo de mestre e a fazer reverencias cada vez mais exageradas, no estilo japonês. Ficaram mais animados ainda quando souberam que o mestre iria treinar ali. Era uma oportunidade única de ver o grande mestre em ação.

O mestre foi escolhendo seus adversários. Derrotou um por um com grande facilidade.

Finalmente, ele decidiu enfrentar o campeão mundial que estava ali.

O campeão estava claramente encabulado mas foi enfrentar o mestre. Ele até tentou dar alguns golpes mas o mestre mostrou um contra ataque magnífico. O campeão mundial caiu no chão.

Algum tempo depois ele levantou com dificuldade, pediu desculpas ao mestre por não poder continuar por estar machucado e saiu carregado por alguns alunos.

O mestre olhava com um olhar altivo procurando seu próximo adversário. Foi olhando os alunos um por um e seus olhos se fixaram exatamente no brasileiro.

Não é possível! Não estou pronto para isto pensou o brasileiro. Mas o olhar fixo do mestre sobre ele não deixava dúvidas. Um discípulo se aproxima e diz:

- O mestre quer lutar com você.

O brasileiro só consegue dizer com vergonha: estou com a perna machucada...

O discípulo traduz para o japonês e todos na academia dão uma risada maldosa. Esta morrendo de medo - pensam eles.

O mestre não ri. Continua encarando o brasileiro como um leão encara a presa. Faz um aceno com a mão. O sinal é claro: Venha!

Com as pernas tremendo o brasileiro se levanta. Deveria arrumar o seu kimono para um ocasião destas mas suas mãos tremem tanto que ele sabe que será impossível fazer isto.

A única coisa que lhe passa pela cabeça e que se machucar seriamente o tratamento médico será muito caro e ele está totalmente sem dinheiro.

Os dois estão frente a frente. Fazem o cumprimento de praxe. A luta começa.

O brasileiro dá o primeiro golpe que foi péssimo. Contrariando tudo o que aprendeu ele fecha os olhos durante o golpe.

Depois disto não sente mais nada.

Será que eu desmaiei? - pensa o brasileiro. Lentamente ele vai abrindo os olhos. O que ele vê é inacreditável!

O mestre está caído e desacordado! Tinha derrotado o velho mestre! Muitas coisas passam por sua cabeça. Será que foi um golpe de sorte? Será que os anos de treinamento surtiram efeito?

Olhou para os discípulos que também estavam muito espantados. Com certeza Nunca esperavam por isto.

Um pensamento lhe ocorreu: Iria ele, um brasileiro, se tornar o novo mestre? Afinal de contas tinha derrotado o velho mestre em uma luta justa.

Um discípulo graduado chega perto do brasileiro e diz: Seu imbecil! Não sabe que aqui no Japão todo mundo deixa o velhinho bater?